Gostaria muito de escrever que a crise do leite foi superada, que o setor está se reerguendo e os agricultores estão contentes, no entanto, o cenário é muito diferente. A crise não só se agravou, como os dados começam a serem divulgados.
De acordo com a Regional da EMATER de Lajeado, entre 2015 e 2017, um total de 1.082 produtores de leite desistiram da atividade no Vale do Taquari. Isso equivale a uma redução de 15,5% e não são somente produtores, são famílias que antes se dedicavam e dependiam da atividade leiteira, mas que agora já não identificam viabilidade financeira na mesma. Além disso, existem os produtores que ainda não desistiram em função das dívidas e financiamentos contraídas recentemente. Ainda conforme a Regional da EMATER, os prejuízos registrados na produção de leite em 2017 somaram R$ 250 milhões.
O custo de produção de leite para o agricultor está em torno de R$ 1,20 ao litro e a média recebida pela venda é de R$ 0,85. De acordo com a Pesquisa Pecuária Municipal elaborada pelo IBGE, em 2016 o Vale do Taquari produziu 358,4 milhões de litros de leite. Multiplicando essa quantidade de leite por R$ 0,34 (média da redução do preço mínimo pago ao produtor entre julho/2016 e junho/2017 de acordo com o Conseleite) temos um montante superior a R$ 121 milhões que deixou de ser pago aos agricultores e, consequentemente, deixou de circular na nossa economia regional.
Sim, meus caros, a situação é grave e também afeta nós consumidores. A desistência de produtores de leite vai acarretar em uma futura redução na oferta desse produto em nossa região. O leite virá de fora, assim como em alguns casos já vem hoje. Logo, estaremos sujeitos a produtos lácteos importados e sem procedência confiável. A Europa vive uma situação onde grandes quantidades de leite em pó se encontram armazenados, cujo prazo de validade está a chegar ao fim e precisam dar um destino a esse leite.
Além disso, recentemente uma multinacional francesa de lácteos que atua também no Vale do Taquari teve que recolher do mercado mais de 12 milhões de caixas de leite infantil depois de confirmado que 35 bebês franceses foram infectados pela bactéria salmonela presente no leite. Então, qual o nosso futuro enquanto consumidores de leite? Onde está a nossa segurança alimentar? O que o Estado está fazendo para amenizar essa crise no setor e garantir um produto de qualidade ao seu consumidor final?
Boa semana!
Cândida Zanetti – Bacharel em Desenvolvimento Rural e Gestão Agroindustrial (UERGS) e Mestre em Desenvolvimento Rural (PGDR/UFRGS). Atualmente Assessora Territorial de Inclusão Produtiva do CODETER VT.