Finalizados os segundos turnos em todo o país no último domingo, muito se ouve e se lê sobre o que estão chamando agora da derrocada da esquerda brasileira. Mas surge um questionamento: Brasil foi realmente alguma vez esquerdista?
Presenciamos no começo dos anos 2000 discursos de cunho ideológicos de esquerda, com militantes bradando que o país entrara em uma nova era. Mas o comportamento posterior, totalmente centrista, mostrou que na realidade recebemos mais do mesmo, ou até pior, depende do ponto de vista. Agora, bradam alguns que fizeram parte desse período no topo da cadeia, que o Brasil se entregou aos “filhos de 64” como se algum dia o país realmente tivesse assumido uma política inteiramente de esquerda. Não, não assumiu. O país sempre esteve do lado da comodidade. É nosso perfil.
Nem quando o PT esteve no poder durante esse tempo não se viu um apoio incondicional ao que pregam os mais radicais extremistas do socialismo ou comunismo, ou seja, uma esquerda de verdade. O Estado continuou predominante, é verdade, mas assim já era durante todo o tempo. O povo viu alguma política popular, sim, mas no mais puro clientelismo político que se pôde ver até então na nossa história, com programas populistas que serviram somente para amarrar o apoio de marginalizados sociais.
O país, no entanto, mostrou que o que importa mesmo é o bolso. As pessoas sempre votaram com a “consciência econômica”, inclusive o exemplo dos programas sociais citados anteriormente mostra isso. O povo brasileiro não se preocupa com problemas estruturais de médio e longo prazo. O cidadão comum não quer saber se alguma coisa amanhã pode ser prejudicada por causa do benefício recebido hoje. O povo quer é viver o agora, é feliz com a possibilidade da compra parcelada, por poder colocar na mesa algo que não podia antes e fazer o que lhe parecia impossível em outros tempos como tirar férias com a família em uma praia.
A ideologia do povo é o seu bem-estar pessoal. A população não se importa se o vizinho não tem pão, não tem água, não sabe onde morar ou se está empregado. Não se importa se o governo está gastando demais ou mal. Se importará se a má gestão pública refletir na sua vida. E essa realidade bateu na porta de milhões de lares nos últimos anos. A economia mostrou que depende de ações responsáveis dos gestores. Ações estas que se mostraram ineficazes durante o tempo da dita esquerda no governo e que cobraram seu preço agora, preço que foi pago por este grupo nas urnas de todas as cidades brasileiras.
Em relação ao tipo de trato político, espero sinceramente que não haja um comportamento revanchista por parte de quem assumirá as cidades em 2017, principalmente aqueles mais identificados com a “direita” brasileira. Estejam vacinados contra o tipo de política e gestão pública feitas até agora. Que tenhamos prefeitos e vereadores preocupados realmente com uma mudança de comportamento administrativo, independente de ideologias. Porque a ideologia do povo só não vê quem não quer, ou quem está disposto a pagar o preço politicamente.
Boa semana!
Fredi Camargo – Cientista Político
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