Cervejaria e produtores apostam na produção de cervejas com matéria-prima da região. Primeiros rótulos chegam ao mercado em breve
Aromáticas, encorpadas e muito saborosas: assim são as cervejas especiais. Um dos ingredientes que garantem essas caraterísticas é o lúpulo. De olho no aumento da demanda pela bebida, agricultores apostam no cultivo da planta.
Incentivados pela Cervejaria Salva, com sede em Bom Retiro do Sul, idealizadora do projeto Salva Hops, onde em parceria com produtores, aposta na produção de lúpulo. O casal Evandro Bauer e Vanessa Tresolldi Schneider, de Forquetinha possui uma estrutura para 680 plantas.
Atualmente 200 estão em fase de desenvolvimento e a metade já começou a produzir. Neste primeiro ano de colheita a produção alcança 20 quilos. “É baixa por que elas ainda não atingiram a maturidade. Quase toda matéria-prima foi vendida para cervejaria. Apenas uma pequena quantidade foi destinada para uso próprio na fabricação de cervejas artesanais”, destacam.
Segundo Bauer, estão em fase de testes vários estilos para identificar qual a preferência do consumidor. “Quem experimentou ficou impressionado com o aroma e sabor. A bebida feita com lúpulo daqui, fresco ou mesmo seco, é muito diferente daquela produzida com matéria-prima importada. Muitas vezes é safras anteriores e se degradam com o tempo, pelo fracionamento e até armazenagem”, explica.
A quantidade de lúpulo utilizado para fabricação de cervejas depende do estilo a
ser produzido. Por exemplo, para fabricar 10 litros da APA, Evandro e Vanessa utilizam 60 gramas de lúpulo seco, o que resulta numa cerveja mais lupulada.
Entre os planos para o futuro está a meta de triplicar o número de plantas para atender a demanda de cervejarias e cervejeiros artesanais. Outro projeto é iniciar a produção e venda de mudas.
Hoje estão em fase experimental as variedades Centennial, Cascade, Brewers Gold, Nugget, Magnum, East Kent Golding, Columbus, Tehuelche, Hallertau Mittelfruh, Galena, Crystal, Sorachi Ace, Zeus, Brasyljinski e Mantiqueira.
“Aos poucos estamos iniciando a produção de cervejas com o lúpulo próprio e no futuro pretendemos fazer em escala comercial, cuja marca será Império Verde”, anunciam.
Potencial para crescer
Para o secretário municipal da Agricultura e Meio Ambiente, Adair Pedro Groders, o cultivo de lúpulo possui um vasto mercado para ser explorado.
“Apesar de ser uma cultura de risco, tendo qualidade, assistência técnica e comprador, se torna um excelente negócio. Hoje a maior parte da matéria-prima é importada. Temos condições climáticas para produzir aqui e criar uma nova fonte de renda.”
“Garantia de origem e qualidade serão nossos diferenciais”
De acordo o engenheiro agrônomo Marcus Outemane, coordenador do projeto Salva Hops, da Cervejaria Salva, de Bom Retiro do Sul, há muito pouco tempo questionava-se o lúpulo no Brasil e agora com o esforço de todos os produtores e da Associação Brasileira dos Produtores de Lúpulo (APROLÚPULO) conseguiu-se mostrar que além de realidade, o lúpulo brasileiro tem qualidade e características únicas.
Recentemente a empresa fez a aquisição de uma área de terras em Paverama onde pretende implantar uma área maior de lúpulos. Também segue em busca de produtores parceiros para ampliar a oferta de matéria-prima.
Atualmente são sete produtores associados em cinco munícipios do Vale do Taquari, além de dois em Lagoa Vermelha e Vera Cruz. “Acima de tudo a maior intenção é incentivar a agricultura familiar, a diversificação da propriedade rural e aproximar a cadeia produtiva.”
Entrevista
Como está a safra aqui na região?
MaRcus Outemane – A safra deste ano está surpreendendo. O lúpulo é uma planta perene que atinge o seu pico produtivo e qualitativo a partir do quarto ano e até chegar ao quarto ano ela vai evoluindo constantemente seus padrões qualitativos. Este ano temos muitas plantações chegando ao segundo ano de plantio surpreendendo em qualidade. Os cones (como é chamado a flor de lúpulo) estão muito aromáticos, e vem nos dando muitas ideias de utilizações e estilos de cerveja para testar. Entre todas as plantações também temos uma delas que está no seu quarto ano e foi uma das primeiras (se não a primeira) plantação de lúpulo certificada orgânica do Brasil. Ela já foi para o tanque e a cerveja será lançada em breve. Este ano devemos colher em torno de 500 quilos.
Qual o diferencial da cerveja produzida a partir do lúpulo da região?
Marcus Outemane – Atualmente os EUA e a Alemanha produzem aproximadamente 75% da produção mundial e costumeiramente esse lúpulo é primeiramente vendido nos EUA, Europa e Ásia. Então o lúpulo de primeira linha da safra, dificilmente chega ao Brasil. Ter a oportunidade de plantar o nosso próprio lúpulo nos dá um insumo de qualidade, fresco e com a garantia de origem, isso proporciona a cerveja características únicas, onde pode-se notar o frescor do insumo e aromas bem definidos.
Como é feita a industrialização?
Marcus Outemane – Devido ao não processamento do lúpulo (que é a forma que usamos hoje), preserva-se mais os óleos essenciais, além de um perfil sensorial diferenciado, pois a combinação de clima, solo, variedade, planta, manejo e todos os outros fatores que possam influenciar no cultivo inclusive a intervenção humana é chamado de terroir influencia diretamente na qualidade final do produto, dando um diferencial para ele. O lúpulo ‘Cascade’, produzido em Forquetinha, por exemplo, é totalmente diferente de um ‘Cascade’ produzido nos EUA e isso nos dá novas possibilidades para o seu uso.
Quando estas cervejas chegam ao mercado?
Marcus Outemane – Nas próximas semanas será lançada a nossa Harvest Session IPA, com lúpulos de Santa Clara do Sul e Lajeado, e esse ano ainda teremos cervejas sendo feitas com lúpulo de Forquetinha, Sério e Lagoa Vermelha com lançamento para os próximos meses.
Ascom Forquetinha