Os produtores e as agroindústrias exportadoras de frango e carne bovina do País acompanharam com certa apreensão o desenrolar dos acordos do governo Brasileiro com Israel, especialmente a situação da transferência da embaixada brasileira para Jerusalém e, mais recentemente, somente a abertura de um escritório comercial.
Essas possibilidades são consideradas pelo mundo árabe um desprestígio, conforme as reações que estão havendo, e pode representar uma ameaça de retaliação econômica, causando fortes estragos, pois são grandes compradores de frango e carne bovina do Brasil.
De acordo com a Câmara de Comércio Árabe – Brasil, em 2018 as exportações brasileiras para os 22 países da Liga Árabe somaram US$ 11.5 bilhões em frango, carne bovina, grãos, minério de ferro e açúcar. E estima haver potencial para aumentar as exportações para US$ 20 bilhões nos próximos quatro anos.
O presidente da Associação Brasileira da Proteína Animal, classificou a decisão de não transferir a embaixada como “absolutamente sensata”. Destacou a importância do mundo árabe para a avicultura, uma vez que o mercado representa uma receita anual de US$ 3 bilhões. Portanto, qualquer aceno de medida que possa desagradá-los pode representar risco a importantes setores da economia brasileira, especialmente para o agronegócio.
Já Associação Gaúcha de Avicultura divulgou os efeitos negativos do embargo da União Europeia, da greve dos caminhoneiros, da sobretaxa da China e o descredenciamento de algumas plantas exportadoras. O reflexo foi uma queda de 25% nas exportações de frango do Estado em 2018, que atingiram 554 mil toneladas neste ano, quando em 2017 esse total chegou a 743 mil toneladas. Além de todas estas situações, é preciso destacar ainda a crise do setor leiteiro, que se arrasta por longo tempo, responsável pela exclusão de significativo número de produtores, tendo como causa principal a importação desenfreada de leite em pó do Mercosul.
Para nossa região, grande produtora e exportadora de frangos, uma retaliação econômica por parte do mundo árabe seria, sem dúvida, um baque econômico e social muito grande, tanto para produtores quanto para agroindústrias. Estrela, por exemplo, gera anualmente 35 milhões de frangos, indo importante fatia para a mesa dos árabes.
Estes fatos bem evidenciam o conflito que existe hoje. De um lado o grande esforço dos produtores, com expressivos investimentos em tecnologia de produção, gerando produtos diferenciados exigidos pelos mercados interno e externos. De outro, a insegurança oferecida pelos mesmos mercados. Lamentavelmente, esta acentuada fragilidade dos mercados ligados ao agro colide frontalmente com os esforços e riscos dos que produzem alimentos para os mais diversos destinos.
Secretário da Agricultura de Estrela