Astor Bald, 46, de São Vitor, contabiliza uma queda de R$ 141 mil em 2017, devido à redução de R$ 0,50 no litro do leite. “Ficamos receosos. Tenho meus dois filhos e o genro na propriedade. Eles querem continuar, mas precisamos ter garantia de lucro”, observa.
Edson Wollmuth, 19, auxilia na produção diária de 900 litros. O rebanho de animais chega a 46 animais. “O segredo está na gestão de custos e na busca de conhecimento para melhorar cada etapa produtiva. Com mais qualidade conseguimos obter melhores rendimentos”, aposta.
Guilherme Schmidt, 19, de Arroio Abelha 1, trabalha com o pai na atividade leiteira. Nos últimos anos investiram R$ 150 mil na compra de um trator, implementos e no aumento do rebanho. “De R$ 1,49 o preço caiu para apenas R$ 0,86. Deixamos de receber R$ 6,6 mil por mês. Assim fica difícil pagar as dívidas e se manter na propriedade”, desabafa.
Após 20 anos de trabalho na cidade, o casal Eloir e Nelci Lottermann, voltou para a lavoura. Moradores de Bauereck produzem uma média de 100 litros por dia. Contabilizam uma queda de R$ 0,70 no valor pago nos últimos meses. “Temos R$ 50 mil para pagar. Está muito difícil se manter na atividade”, conta.
Os casos foram relatados na reunião organizada pelo Executivo de Forquetinha em parceria com a Emater, Secretaria da Agricultura e Associação dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais da Regional Sindical do Vale Taquari na última semana.
Conforme o prefeito Paulo José Grunewald a maioria dos produtores está endividada. “Com este preço é impossível continuar. Temos que trancar a importação, definir cotas e criar mecanismos para estabelecer um preço mínimo, justo para o produto”, observa.
Cita que com a crise deixou de circular na economia local em torno de R$ 6 milhões, o que representa 50% do orçamento anual. “Nossa receita está igual faz três anos e as despesas só aumentam. Precisamos nos mobilizar para que nossos jovens possam ficar na lavoura, ter rentabilidade e assim fazer a arrecadação crescer”, comenta.
Grunewald em parceria com a Associação dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais da Regional Sindical do Vale Taquari articula a criação de um frente única para debater o tema na Assembleia de Verão em Torres, programada para os dias 21, 22 e 23 deste mês. “Já entramos em contato com o presidente Salmo Dias e ele se mostrou disposto a nos ajudar”, adianta.
Entre o ano de 2015 e junho de 2017, segundo o chefe do escritório da Emater, Arthur Eggers, 96 famílias abandonaram a atividade. Em 115 propriedades a média produzida por dia é de apenas 50 litros. “Se nada for feito, mais produtores deixarão de produzir”, alerta.
Prejuízo de R$ 250 milhões
De acordo com o gerente regional da Emater em Lajeado, Marcelo Brandoli, a queda no preço do leite levou os 36 municípios do Vale do Taquari a prejuízo um de R$ 250 milhões, no ano passado. “Em torno de 2 mil produtores deixaram o setor. A saída é estimular o consumo e destacar os benefícios do produto,” destaca.
Alertou que no dia 28 de fevereiro, cai o decreto que aumentou de 4% para 18% o IMCS sobre o produto importado. “Se ele não for mantido, serão retomadas as importações e a tendência é da crise persistir ou até piorar”, projeta.
O presidente da Associação dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais da Regional Sindical do Vale Taquari, e também do STR de Cruzeiro do Sul, Marcos Antonio Hinrichsen, o setor amarga queda de 40% nas exportações. “Sem falar do recuo de 2% no consumo e de 20% no valor médio pago por litro ao produtor. Já registramos o fechamento de 30 agroindústrias de lácteos devido à crise. Queremos sensibilizar o governo para encontrar saídas. Isso somente será possível com a união de todos”, convoca.
Os sindicalistas buscam apoio da Amvat para oficializar um documento onde constem as perdas acumuladas em cada município e assim possam, junto ao governo estadual e federal criar formas de amenizar os prejuízos.
Demandas aprovadas
Entre as propostas aprovadas pelos mais de 30 produtores e demais lideranças que participaram da audiência estão a intervenção do governo federal, financiamento de estoque e compra de 50 mil toneladas de leite; alongamento de 36 meses e desconto de 20% em empréstimos; crédito emergencial com prazo de 36 meses para o pagamento e 20% de rebate; revisão do preço mínimo de referência do leite; antecipação do pagamento para o 5º útil do mês e ampliação das vistorias pelos laboratórios credenciados quanto à qualidade do produto importado.
Texto: Ascom Forquetinha