Foi vendo o irmão tocar violão, aos 12 anos, que o encantadense Fernando Graciola começou a se interessar pela música. Mesmo sem ter um histórico na família, a irmã, que declamava nos rodeios, também ajudou a despertar essa paixão. “Na época, por ser um instrumento barato e acessível o violão era mais comum. Eu ficava a sua volta vendo-o tocar com revistinha, pois não tinha internet. Ali comecei a ter o primeiro contato e sonhava, assim como todo adolescente, em ter uma banda”, relembra.
Formado em Violão Clássico pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o compositor e arranjador antes de chegar à faculdade já havia consigo uma bagagem de experiências. “Desde o primeiro dia em sala de aula tinha certeza que a música era o caminho a seguir. Comecei a cantar e declamar em rodeios, ali foi o ‘chamado’. Eu esperava a música tocar no rádio para poder gravar e tirar as notas. Hoje com um clique tem tudo. Realizei muitos trabalhos, onde aprendi e adquiri muito conhecimento, possuía muita didática em leitura e partitura, ou seja, vivencie muita coisa antes de ingressar no curso”, conta Graciolla que também realizou intercâmbio na Argentina.
A paixão pela música virou profissão, mas para o violonista ela tem um significado muito maior. “Vivo e sobrevivo. A música salvou minha vida ao mesmo tempo em que roubou ela. A importância que eu dou a ela mostra que de alguma forma eu tenho que devolver tudo o que ela me proporcionou e vai continuar proporcionando. A música é um alimento para alma. Eu enxergo no que eu posso fazer pelas outras pessoas, quando me sinto a vontade para me conectar com elas, seja emocionando, criando sensações. Isso me faz sentir vivo. Eu me sinto sempre em divida com a arte musical, com a profundidade que a música tem na minha vida. Eu não me lembro de fazer mais nada, parei de jogar futebol aos 17 anos pra me dedicar a ela. Minha diversão é música, seja tocando, estudando, pesquisando, viajando para me apresentar ou assistir um concerto. A música é minha principal religião, eu agradeço por ela, peço que nunca se acabe. Sinceramente é algo muito particular, mas espero que essa chama nunca se apague”, revela.
Ele reforça que a questão financeira é uma consequência (necessária) pela dedicação e amor a música. “Cada um escolhe como quer viver e que teor dá pra sua vida. Estamos acostumados ao consumismo, mas dificilmente alguém que entra na música de caráter sério, será um milionário, mas se houver organização poderá sobreviver e aproveitar da mesma forma. O dinheiro não é o principal alimento de busca. Sou feliz com a música, em ser um instrumento de comunicação. Eu durmo pouquíssimo, no máximo 4 horas por noite, mas ela me mantém vivo. Se eu tivesse que trabalhar em outra área certamente não teria motivação, eu não faria”, enaltece.
Entre tantos momentos marcantes que a música lhe proporcionou, como a convivência com ídolos, a gravação da primeira música, a principal foi quando tocando o violão sentiu-se vivo. “Pensei, vou fazer isso e o mundo que se exploda. Estamos sempre preocupados com o que os outros vão achar que esquecemos de olhar para o universo interior. Tento alimentar isso todos os dias, porque se não já tinha desistido. É fácil desistir porque o sistema implantado é contra, por isso tento alimentar essa chama para poder seguir”, ressalta.
Música Instrumental, MPB, Jazz, Folclore, Música Latino-americana, Violão, Choro, Chacarera, Milonga, Chamamé fazem parte do repertório do artista. De acordo com ele, as pessoas não gostam desse tipo de música porque não conhecem e que é preciso um trabalho conjunto para que a arte e a cultura sejam valorizadas. “As pessoas não prestam atenção em nada. O nível intelectual decaiu muito, porque é tudo muito fácil. Assim é na música, a sociedade não se interessa por ela. Deveríamos parar de olhar para o próprio umbigo, começar a ouvir mais do que falar, apreciar e analisar. Uma vez assisti um concerto de uma pianista em que a música era bem aleatória, mas eu queria aprender. Olhei para o professor do lado e percebi que ele compreendia tudo e eu me senti burro, e isso me motivou a pesquisar. Acredito que é preciso dar o devido valor as coisas. Somos os que ouvimos, porque tu colocas para fora aquilo que tu ouve, aquilo tu lê. Penso que o primeiro passo é começar a notar os espaços, exigir do poder público para saber o que está sendo feito em prol da cultura, para se conectar com a arte. É preciso fazer da cultura um hábito, porque que culpa os artistas tem se as pessoas não tem a capacidade de apreciar, de experimentar, de oportunizar? Precisamos nos abraçar neste sentido, porque o artista não é ninguém sem o público, é uma construção coletiva”, destaca.
Atualmente, Graciola é professor de Música na Casa 7, solista, integra o Quinteto Canjerana, Mafuá Trio Instrumental, Ayo Duo, Camerata Jovem Violão Pampeano e Sul do Mundo. Realiza trabalhos com a cantora Clari Costa, em estúdio e produções.
O músico em breve estará lançando uma web série com violonistas. Todos os trabalhos podem ser acompanhados através dos canais facebook.com/graciolaviolao/, www.fernandograciola.com.br e youtube.com/fernandograciolatv.
Texto: Portal Região dos Vales