A Associação dos Meliponicultores do Vale do Alto Taquari (Amevat), a Emater/RS-Ascar e a Prefeitura de Arroio do Meio realizaram na sexta-feira (27), a oitava edição do Seminário Regional de Meliponicultura. Na ocasião cerca de 300 participantes – entre autoridades, representantes de entidades, extensionistas e criadores de abelhas sem ferrão –, de mais de 40 municípios do Estado estiveram presentes no CTG Querência do Arroio do Meio, para prestigiar palestras e oficinas com temas como controle alternativo de pragas, divisão e multiplicação de colmeias e coleta e processamento de produtos de abelhas sem ferrão.
Um dos principais assuntos debatidos durante o Seminário envolveu o impacto do uso de agrotóxicos na mortandade de abelhas, tema trazido pela doutora na área de Bioecologia de Abelhas, Generosa Sousa Ribeiro. De acordo com Generosa um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) realiza, desde 2015, um estudo que integra a campanha Abelhas x Agrotóxicos, que tem o apoio do Ministério Público Federal. “Desde o começo de nosso levantamento foram mais de 100 análises feitas com abelhas mortas, tendo sido encontrados resíduos químicos em praticamente todas elas”, comenta.
Para a doutora, tal levantamento desmente a ideia de que as abelhas pudessem estar morrendo de fome ou pelo contato com plantas tóxicas – situação que ocorre desde 2007, quando teve início uma perda em massa de populações de abelhas, que ficou conhecida como Distúrbio do Colapso das Colônias. “Nossa intenção, em breve, é escrever um artigo independente que traga essas informações e que possa ser entregue para integrantes do Fórum Gaúcho de Combate aos Agrotóxicos”, comentou, lamentando ainda a perda de 400 enxames somente na última semana, pelo mesmo motivo.
Alinhado com o tema trazido pela doutora Generosa, estava o painel ministrado pelo assistente técnico regional da área se Sistema de Produção Vegetal da Emater/RS-Ascar, Derli Bonine. Além de falar da importância do manejo agroecológico para a manutenção dos enxames de abelhas, Bonine abordou o controle alternativo de pragas, lembrando que todas elas possuem inimigos naturais. “É uma questão de conhecimento”, enfatizou. A terceira atividade da manhã foi ministrada pelo meliponicultor José Carlos Haas, que falou sobre profissionalismo, com dicas para que se logre êxito na atividade.
“Nesse sentido, pode-se dizer que a abordagem proposta pelo evento desse ano foi ainda mais importante, uma vez que as abelhas têm papel fundamental na manutenção dos ecossistemas”, reflete o assistente técnico regional das áreas de Apicultura e Meliponicultura, Paulo Conrad. Para Conrad não se trata de garantir lucro com a atividade e sim reconhecer o valor dos pequenos animais para o meio ambiente. “Não é por acaso que grande parte dos interessados nesta área atua muito mais pela paixão do que pelo resultado econômico”, analisa. “E o que vale em um Seminário como este é a troca de experiências”, completa.
É exatamente este o pensamento do meliponicultor Valdir Werle, de Bom Retiro do Sul. Com dez caixas da variedade Jataí, Werle, que é criador de aves de corte, garante deixar o estresse de lado apenas por acompanhar o trabalho das abelhas sem ferrão. “É algo muito prazeroso”, garante o produtor, que iniciou na atividade há 10 anos com uma caixa. Autodidata, aprendeu a fazer caixas e a multiplicar as abelhas assistindo a vídeos na internet, transformando o hobby em uma verdadeira paixão. “Minha ideia, mais para frente, é duplicar o número de caixas”, garante, reforçando a importância do trabalho para a natureza.
O evento, que buscou promover a troca de conhecimentos entre os envolvidos, contou ainda com exposição de enxames e de modelos de caixas, distribuição de mudas e de estacas, degustação de mel e comercialização de enxames de espécies nativas. Participaram do encontro o prefeito de Arroio do Meio, Klaus Schnack, o gerente adjunto da Emater/RS-Ascar, Carlos Lagemann, o presidente da Amevat, Hugo Schmidt, e o deputado estadual Edson Brum, além de representantes da Federação Apícola do Rio Grande do Sul. O apoio à atividade foi da Articulação em Agroecologia do Vale do Taquari (AAVT) e da cooperativa Sicredi.
Lagemann, representando o secretário de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR) do Governo do Estado, Tarcísio Minetto, destacou a importância de uma atividade que está muito mais relacionada à paixão pelo mel e pela natureza do que pela busca pela produtividade. “Ainda que nós, enquanto entidade, também estejamos ao lado dos apicultores que possuem esta como uma alternativa de renda para as propriedades”, enfatizou, valorizando ainda o trabalho em parceria entre diversas entidades para a consolidação do Seminário.
Texto: Ascom Emater