É possível que em nenhum outro momento da história do país tenha se falado tanto em trabalho como nos últimos anos. A palavra que é tão comum e normal ao cotidiano, talvez seja tão pouco compreendida mais profundamente por todos. Captar a causa raiz de problemas pessoais faz parte da atividade do psicólogo, assim entender mais sobre atividades cotidianas, já intrínsecas ao conhecimento do senso comum, pode servir de base para desvendar alguns problemas sociais.
Ao pensar a origem histórica do trabalho como um fato, chega-se às atividades da produção dos primeiros artefatos de pedra produzidos pelo homem pré-histórico que os utilizava como ferramentas para adequar e transformar o ambiente em que vivia. Porém a maioria dos estudiosos da área do trabalho desconsidera como este sendo verdadeiro, pois não há na atividade uma finalidade financeira. A convenção social que se tem sobre a origem do trabalho é datada do momento em que o homem começa a vender seu tempo em troca de dinheiro. Através da mercantilização da atividade é que se acredita que surgiu propriamente dito o trabalho.
É no momento da revolução industrial que se estabelece este limite do trabalhador como o assalariado, e assim se distingue o que é trabalho e o que está fora dele, fora da esfera laborativa – tudo que se torna lazer ou desemprego. Este momento tão importante é o que demarca o início de classes sociais, de movimentos sociais e o início da exploração. É também em torno desta construção mercantil que ganham espaço as relações políticas em sua estruturação. O trabalho passa a ser a atividade de venda de um tempo de vida.
Com o Taylorismo aperfeiçoaram-se as técnicas para tornar mais valiosos os tempos investidos nas atividades laborativas. Taylor descobriu a forma de fazer o homem se aperfeiçoar e conseguir produzir mais em menos tempo; conseguiu otimizar-se o processo de produção. Sempre há uma ferramenta que permite que se faça a atividade mais rápida e melhor que antes. E assim a sociedade atual moldou-se para atender a estas demandas e se chegou ao progresso e tecnologias conhecidos por nós hoje.
Mesmo com toda transformação, sempre a grande máquina e a fonte geradora de toda engenhosidade do trabalho foi o homem. Falar tanto em trabalho vivendo em um século que não apenas se executa, mas se pensa sobre o fazer, nos permite perceber que toda a evolução laboral, que modificou profundamente a estrutura social, mais uma vez está a adaptando. Muitos hoje se dizem adversos a aquele movimento taylorista que tentava sempre extrair o melhor do homem em prol da produção e falam em inovações em gestão e técnicas mais humanas.
No momento histórico em que o trabalho foi definido e enquadrado como mercantil, deixando o que não é financiável no campo do fora do trabalho, desconsiderou-se uma parte fundamental do homem que interfere no campo do emprego. Não se pode ignorar as conquistas feitas no percurso histórico pelo qual o trabalho emergiu, mas é preciso entender que dicotomizar o que é e o que não é trabalho de forma tão simplista, exclui uma interface muito mais ampla das relações reais humanas e sociais. O campo do fora do trabalho não é apenas um oposto, mas é complementar, é transversal, entrecruza, pois o que acontece fora do trabalho por vezes é muito mais importante a essa máquina homem do que acontece quando se está trabalhando. Tentar resolver situações do trabalho lançando nosso olhar apenas ao campo do dentro levará a resultados incompletos, superficiais e equívocos sobre a realidade do mundo laboral, mesmo falando em uma gestão mais humanizada.
Boa semana!!
Carol Sofia é Psicóloga e Especialista em Gestão e Docência de Ensino Superior.