Plantas alimentícias não convencionais (panc) estão amplamente sendo divulgadas e despertam o interesse da comunidade, especialmente de espécies ou partes de espécies comestíveis e que ocorrem comumente nos arredores das residências e em propriedades de agricultores familiares que produzem alimentos dentro dos princípios da agroecologia. Mas o que são plantas alimentícias não convencionais? Onde podem ser encontradas? Qual a importância da sua utilização na alimentação diária?
Plantas alimentícias não convencionais são assim denominadas pois apresentam partes comestíveis, sejam tubérculos, folhas, flores e inflorescências, frutos ou sementes, mas que não são reconhecidas como tal. Muitas vezes são de fácil obtenção, pois ocorrem a margem de culturas convencionais, e por isto, são denominadas inços ou daninhas; além disto não necessitando de insumos externos para o seu cultivo. Muitas espécies são utilizadas em algumas regiões do país, não sendo consideradas portanto não convencionais, havendo relação também com a cultura regional. Pode-se citar o exemplo da folha de batata doce, consumida convencionalmente no estado de Santa Catarina, no entanto não consumida no Rio Grande do Sul.
Muitas destas espécies eram utilizadas no passado, no entanto deixaram ser consumidas devido a mudança na rotina de trabalho, que levou a mudanças alimentares, onde houve substituição de alimentação que incluía alimentos frescos e mais saudáveis, por uma alimentação baseada em alimentos processados, conhecidos como fast food. Estas mudanças nos hábitos alimentares levaram a uma alimentação pobre em nutrientes e rica em gorduras e açúcares, que são mencionadas em diferentes pesquisas, como danosos a saúde, levando a problemas como diabetes, hipertensão arterial, dentre outros.
Neste sentido, a utilização diária das pancs é muito interessante, pois é fato comprovado inclusive em estudos de base científica, que muitas destas espécies apresentam quantidades de macro e micronutrientes, aminoácidos essenciais, antioxidantes e polifenóis, maiores do que nas espécies convencionais, podendo-se citar as folhas do dente de leão, que incluem quantidades duas a três vezes maiores do que os nutrientes encontrados em folhas de alface, havendo outros exemplos comparativos entre espécies de pancs e espécies convencionais.
É importante que as espécies sejam identificadas e reconhecidas em catálogos e livros especializados, para que possam ser coletadas e consumidas, bem como deve haver cuidado com os locais de coletas, pois muitos locais podem estar com contaminantes ambientais, inclusive agrotóxico e dejetos. Pode-se citar algumas espécies que ocorrem na região, facilmente reconhecidas na natureza, podendo-se citar o dente-de-leão, a bertalha, a beldroega, o ora-pró-nobis, a capuchinha, a inhame rosa, o hibiscos, dentre outras. Além disto, é importante salientar que podem ser encontradas em feiras de agricultura familiar e de produtos orgânicos e agroecológicos.
O seu preparo é muitas vezes mais simples e fácil do que pensamos, podendo ser consumidas em saladas, refogadas, em pães, bolos, biscoitos, enfim, incrementando pratos preparados no cotidiano alimentar, podendo ser acrescentadas inclusive em pratos típicos, como por exemplo a inserção de folhas de bertalha e beldroega em carreteiros ou feijoadas, ou na preparação de molhos verdes, patês e aperitivos fáceis de serem preparados.
As pancs são encontradas na natureza, nos arredores das nossas casas, na borda de estradas e rodovias e em propriedades da agricultura familiar de base ecológica, são recursos alimentares que vem sendo perdidos e não utilizados, simplesmente pelo fato de não serem reconhecidos como alimento, sendo fundamental que seja dado este olhar para os recursos alimentares da nossa agrobiodiversidade.
Elaine Biondo – Professora da Uergs unidade em Encantado, membro da Articulação em Agroecologia do Vale do Taquari e Coordenadora do Núcleo de Estudos em Agroecologia e Produção Orgânica do Vale do Taquari.
Cândida Zanetti – Professora da Faculdade La Salle Estrela, pesquisadora do CNPq, membro da Articulação em Agroecologia do Vale do Taquari e bolsista do Núcleo de Estudos em Agroecologia e Produção Orgânica do Vale do Taquari.