Todos nós já ouvimos falar no famoso jeitinho brasileiro, que na década de 70 tornou-se a célebre “Lei de Gérson”, onde o então famoso jogador da seleção tricampeã do mundo declarava abertamente que gostava de levar vantagem em tudo. Este comportamento cultural, de uma necessidade de levar vantagem em tudo mesmo passando por cima de princípios morais é um hábito conhecido do brasileiro.
Mas, até que ponto esse comportamento é realmente salutar para nossa sociedade? Já trouxemos aqui alguns exemplos de como é preocupante nosso futuro como nação se os agentes públicos continuarem com as suas ações tradicionais em nome do poder e favorecimentos pessoais e também o quanto, nós cidadãos, somos os únicos “culpados” por esta situação permanecer assim e também somos a única chance dela se alterar.
De que adianta termos leis e regras sociais que buscam coibir tais atos, se temos intrinsecamente em nosso comportamento cultural e social, de modo geral, essa “satisfação” de levar vantagem sobre algo ou alguém mesmo sabendo que talvez tenha sido por vias desonestas? E a pergunta mais importante: por que o brasileiro mantém esse comportamento se ele é o maior prejudicado com isso?
A história nos mostra que a então colônia portuguesa Brasil era na verdade uma terra extrativista cujo império luso propositalmente deixava à deriva do conhecimento e da comunicação com o restante do mundo exatamente para que não houvesse do lado de cá do oceano a iminência de lideranças ameaçarem essa autonomia saqueadora. Mais tarde, já no reinado de Dom João VI aqui no Brasil em meados de 1818 ainda era precária a fatia de instrução escolar dos habitantes de nosso país já que somente cerca de 2,5% da população masculina em idade escolar era alfabetizada em todo o território nacional.
A falta de erudição do povo aliada ao comportamento tradicionalmente paternalista dos governantes refugiados no Brasil, fez com que esse costume se enraizasse em nossa sociedade. Infelizmente, com o passar do tempo, o maior prejudicado pelo jeitinho brasileiro herdado de nossos “colonizadores”, o povo, tornou-se ele próprio um portador desse tipo de comportamento e uma poderosa arma autodestrutiva à nossa nação quando se fala em cidadania plena e correta.
A compra e venda do voto por favores, dinheiro ou promessa de emprego é sem dúvida, uma das piores e mais asquerosas práticas corriqueiras de eleitores e políticos brasileiros que retroalimentam a Lei de Gérson política. Com isso, esses praticantes destroem a possibilidade de crescermos dentro de uma democracia consolidada e um serviço público eficiente e realmente para todos colaborando com a corrupção e ainda pior, construindo um país com fome, sem segurança, sem educação e inteiramente desestruturado socialmente. Pensemos nisso, as eleições estão próximas e ainda há tempo de mudarmos o futuro de nosso país que hoje está assim devido à essa herança maldita.
Boa semana!
Fredi Camargo – Cientista Político
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