A nomeação de um aliado para um ministério criado às pressas feita por Michel Temer, evidenciando uma manobra claramente protecionista, trouxe à tona novamente o tipo de mentalidade que Brasília possui em relação ao poder e ao que pensa a opinião pública. Mais uma vez o governo central manda às favas o decoro e a ética em nome da manutenção dos aliados na impunidade. A nomeação do novo ministro para dar foro privilegiado a um citado em delações premiadas na operação Lava-jato é tática surrada e condenada por quem hoje se utiliza do mesmo subterfúgio estratégico.
Não vamos porém cair na ladainha da polarização esquerda versus direita. A população tem que entender que o Estado e as instituições estão em crise e o modelo vigente mais uma vez mostra que não serve ao povo e sim se serve do povo para sobreviver. O chamado golpe que derrubou Dilma não nos trouxe nenhuma novidade, trouxe mais do mesmo (afinal quem assumiu usou a presidente cassada e sua turma como aliada para estar onde está) e está longe de tornar vítima o PT. Na realidade estamos vendo a briga de cobras que é a política brasileira de uma maneira escancarada e não sabemos mais como isso terminará.
Agora resta mais uma vez ao povo, brigar por seus direito e tentar reverter o quadro dentro da mesma maneira com que bradou pela queda de Dilma. O modo com que Temer leva a gestão não difere em nada, em termos éticos, daquele que estava cansando o povo brasileiro. Não tivemos nenhuma ponte para o futuro no novo governo como quiseram vender a ideia, estamos tendo é um “remember” das práticas que afundaram o Brasil numa crise política sem fim, como uma ponte direta para o passado recente de nosso país.
A população parece ter alterado sua mentalidade durante algum tempo, por mais que a grande maioria tenha ido para as ruas porque também foi influenciada e manobrada, mostrando que estava disposta a gritar por mudança. Agora, diante desse tipo de situação, sem alteração no quadro de crise, resta aos líderes liberais que fizeram com que as pessoas acreditassem que o país poderia alterar sua história voltar aos campos de batalha democráticos das ruas e mostrar que eles não foram lá só para tirar o PT do poder e querem realmente uma faxina moral e histórica na nossa terra.
Enquanto isso, também não podemos aceitar que esse mesmo PT, principalmente o Lula, em seu episódio pessoal trágico, se utilize desse tipo de situação para angariar apoio popular, o que fizeram foi inaceitável e passível de punição, afinal a lei serve para todos e quando convém aos petistas a Lava-jato também é boa. É um absurdo que ainda queiram tapar os buracos éticos abertos em seu período colocando a culpa de uma morte no cumprimento da lei.
Tanto de um lado, com as práticas escabrosas que Temer e seus aliados estão tomando, para livrar muita gente da operação que balançou o país, como de outro, com o PT querendo bater na velha máxima surrada de ricos contra pobres, a verdade é que todos querem o poder a qualquer custo. Pelo visto os limites da briga por isso ainda não foram todos ultrapassados e a criatividade dos que buscam essa situação parece infinita.
Boa semana!
Fredi Camargo – Cientista Político
Contato: cc.consultoria33@gmail.com